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Sunday, July 27, 2008

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Hier soir, j'étais seul avec elle*, nous attendions tous deux l'arrivée du nouvel an, presque en silence. Elle ne songeait guère au présent et, lorsque les cloches se sont mises à sonner et que les larmes jaillirent de ses yeux, j'ai été bouleversé.
myspace layout Carta de Mahler a Friedrich Löhr, 1 de Janeiro de 1885

* Johanna Richter, para quem Mahler escreveu Chants d'un Compagnon Errant

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da voz e da música,

da palavra e do silêncio
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Henri Matisse. La Musique, 1910
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Há imagens estáticas, onde o som se faz e a música arvora. Há imagens silenciosas, ausentes de comunicação, onde paira uma aura de vazio, quase um não-lugar.
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Hammershoi (1864-1916)
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Vale uma imagem por si mesma?
Quietude. Vilhelm Hammershoi, a poesia do silêncio. Sala de música de música ausente.
Mistério. Enigma.
Emptiness.
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de quando o silêncio se faz música, ou a construção da música do silêncio
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Porém, musica-se o silêncio? Mahler, o pensador, parece tê-lo demonstrado. A Primeira Sinfonia de Mahler, um som que repousa sobre o silêncio.

Mahler. Symphony no. 1, 1st mov. part 1, Eschenbach
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Qu’est-ce qui vous a pris de mettre de la musique sur ma musique?
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Verlaine a Gabriel Fauré, após este haver musicado um dos seus poemas
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Musicar um texto é colocar música sobre música? Intruso a pretender dissecar o déjà fait? Musicar a palavra é uma atitude de transgressão?
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ESTRAGON:
I remember the maps of the Holy Land. Coloured they were. Very pretty. The Dead Sea was pale blue. The very look of it made me thirsty. That's where we'll go, I used to say, that's where we'll go for our honeymoon. We'll swim. We'll be happy.
VLADIMIR:
You should have been a poet.
ESTRAGON:
I was. (Gesture towards his rags .) Isn't that obvious?

Silence.

VLADIMIR:
Where was I . . . How's your foot?
ESTRAGON:
Swelling visibly.
VLADIMIR:
Ah yes, the two thieves. Do you remember the story?
ESTRAGON:
No.
VLADIMIR:
Shall I tell it to you?
ESTRAGON:
No.
VLADIMIR:
It'll pass the time. (Pause.) Two thieves, crucified at the same time as our Saviour. One—
ESTRAGON:
Our what?
VLADIMIR:
Our Saviour. Two thieves. One is supposed to have been saved and the other... (he searches for the contrary of saved)... damned.
ESTRAGON:
Saved from what?
VLADIMIR:
Hell.
ESTRAGON:
I'm going.

He does not move.
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Samuel Beckett. Waiting for Godot. Act I
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O Teatro é o lugar da comunicação, actores e público em partilha e comunhão. Operando a ruptura com os géneros clássicos, o Teatro do Absurdo. Resultado da descrença humanista pós Segunda Grande Guerra, um teatro ausente de comunicação. Waiting for Godot, a espera do impossível, Beckett a oferecer-nos o relato do absurdo do homem e da vida. Becket, o texto minimalista. Beckett e a palavra a dizer o silêncio.
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“(…)I do not believe that the text of Godot can support the prolongations which a setting in music would confer to him inevitably. The part like very dramatic, yes, but not the verbal detail. Because it is about a word whose function is not so much to have a direction to fight, badly I hope, against silence, and to return there. I thus see it with difficulty integral part of a sound world.”
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Samuel Beckett, 11 de Março de 1954
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É tão impossível assim musicar Beckett? A criação literária é, por si mesma, musical, a poesia, por excelência, tem uma musicalidade inerente aos jogos de palavras e figuras de estilo. Mas o texto de Becket, silêncio introspecção, retorno ao eu essencial, será impróprio para que dele se faça música?
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Katharina Wagner. Maistersinger, 2007

Ao invés, a Ópera, simbiose de várias artes, arte una querendo dizer todas as outras, aspira a ser literatura, intenção de teatro, comédia ou drama, ainda canto e melodia. Como trata, porém, ela a palavra, que papel nela representa a música?
Enredo cómico ou trágico, os seus cantores são actores, mas a ópera essencialmente é música, o texto frequentemente perde-se, se não acompanharmos o libreto.
Libretos excelentes, uns, ou narrativas tantas outras vezes banais, de qualidade literária duvidosa, as histórias respondem a um esquema quase sempre rígido, pouco variável. Na ópera, a palavra é indissociável do som. Representação, drama e palavras ao serviço da voz e da música.
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Mas eis que, também, a música se torna representação. Sarasate, o romântico, virtuoso entre virtuosos, cor e movimento, leva-nos à imaginação de cenários, sem necessidade da palavra ou da coreografia. É então a música a remeter, ela mesma, a outras artes.
Pablo de Sarasate (1844-1908) Zigeunerweisen, Carmen Fantasy, Navarra…
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Sarasate. Carmen Fantasy, Part 1 of 2, Gil Shaham & Claudio Abbado
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Sarasate. Navarra, Chamber Orchestra Kremlin
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André Derain. Harlequin et Pierrot, c.1924
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Que as artes se tocam, é um facto. Que uma arte pode dar vida a outra, enriquecê-la, promover novas leituras, outro facto. Criatividade a crescer da criatividade. Transformar, travestir. O objecto artístico, qualquer que ele seja, não é estático, metamorfoseia-se. O dito e o não-dito.
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A pintura executou a música e figurou o silêncio. O Teatro expressou a palavra e representou o silêncio. A música recitou a palavra e verbalizou o silêncio.
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Como concluir se não com poesia? O poeta do silêncio e da palavra, Eugénio de Andrade, pois sim!

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São como um cristal,

as palavras.

Algumas um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?

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Eugénio de Andrade, As Palavras

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Quando a ternura

parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,

inda demora,

quando azuis irrompem

os teus olhos

e procuram

nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras

desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

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Eugénio de Andrade, O Silêncio

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Gustav Mahler. Sinfonia Número 1, em D maior, 1888-94
Samuel Beckett. À Espera de Godot, 1948


1. http://www.thelinebeginstoblur.com/store/images/uploads/11.jpg
2. Waiting for Godot: Peter Hall's production in www.telegraph.co.uk.../2006/10/11/btgodot11.xml

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